segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O LÍDER CIDADÃO

O LÍDER CIDADÃO
MARCO AURÉLIO FERREIRA VIANNA

No leque de desafios dos executivos brasileiros no momento atual o assunto liderança representa de modo efetivo uma grande prioridade. De fato, é muito grande o número de reflexões que temos recebido sobre este tema. Por isto, mesmo já tendo desenvolvido uma análise sobre a matéria (Carta aos Líderes, Revista Melhor n.º 152 de Janeiro de 2000 ) julgamos ser importante neste texto olhá-la sob outros ângulos. Nas análises passadas optamos por uma avaliação situacional, tentando indicar as principais prioridades e características do novo líder do século XXI e estruturando o raciocínio em cima de um apoio cognitivo do qual emergiram cinco atributos principais a saber: profeta da mudança, instigador de mutantes, negociador de desafios, criador de visões, conselheiro amigo e amante do faz.
No presente texto, vamos priorizar nossa análise em direção a um conjunto de atributos que formam um aspecto pouco discutido da liderança. Dentro de uma avaliação estanque, em verdade, um líder pode ser considerado como extremamente efetivo independente do caminho de suas escolhas. Nesta linha, mesmo levando nossa reflexão ao extremo, o chefe de um grupo de narcotraficantes pode ser considerado muito bem sucedido nos padrões normais do perfil de liderança que se tem notícia. Afinal de contas ele, como líder, é assertivo, carismático, motivador, instigador, energizado, persistente, corajoso, lida com a crise, domina o ambiente de caos, é mestre, aprendiz, cria desafios etc.
Apenas um e grave problema: ele é o líder do mal. Suas “qualificações” se destinam a atividades cujas conseqüências são predatórias à humanidade. É neste ponto que todos nós, direta ou indiretamente ligados ao tema liderança, devemos parar para refletir se nossos esforços e energias têm se dirigido à construção do Mundo Grande ou do Mundo Pequeno. Somos apenas um bom chefe, um líder estratégico que dá certo, um executivo que agrega valor à organização ou, além dessas tarefas materiais tecnocráticas, saímos da normose e utilizamos esta enorme oportunidade que se chama empresa para efetivamente fazermos uma diferença no mundo?
Neste momento, surge o conceito do líder cidadão o qual, antes e acima de tudo, deve entender que uma organização é uma dádiva divina com a qual temos a oportunidade de melhorar o mundo dentro do nosso próprio tamanho. Como açougueiro de uma pequena cidade do interior ou como presidente de uma empresa com dez mil funcionários, o entendimento da filosofia de uma empresa deve receber um tratamento cada vez mais nobre. Neste sentido, é fundamental entendermos que independente do produto físico ou serviços que fornecemos, no limite criamos valor para nossos clientes entregando felicidade. Recentemente, proferindo uma palestra na Visteon, afirmei que seus colaboradores não me vendiam simplesmente um conjunto de peças plásticas e eletrônicas na forma de rádio CD. Na realidade, eles me permitiam ter a felicidade de ouvir Mozart e Mahler no meio caótico do tráfego.
Em seguida, o líder cidadão deve expandir sua abrangência de atuação de uma visão intramuros do meio empresarial para um conceito de Nação Empresarial. Costumo muito cutucar os líderes de uma empresa com a seguinte afirmação: “Você não é o presidente executivo (palavra que, cada vez mais, detesto) de uma empresa com quatro mil funcionários. Você é o líder estratégico e humano de uma nação com mais de quarenta mil seres humanos, em que se incluem não só as famílias de seus colaboradores, parceiros e fornecedores, como é claro, a sua própria família. Ganha-se uma outra dimensão, sem a conotação de paternalismo, mas sob o conceito mais nobre de estadista.
Finalmente, o líder cidadão sai ainda mais dos muros empresariais e sente-se responsável por um pedaço da comunidade. Ele / ela percebe não adiantar ser parte de uma empresa rica em uma comunidade pobre. Ele exerce sua decisão de ser Líder do Bem, jamais Líder do Mal. Por isto mesmo, ele / ela tem virtudes. Como homenagem podemos ressaltar aquelas que Dalai Lama clama sempre aos quatro ventos: compaixão, amor, justiça, verdade, igualdade, humildade, ambição nobre, bondade, gentileza, franqueza, honestidade, paciência, sinceridade e tolerância.
Assim, termino com suas palavras: “Se tivéssemos que escolher entre conhecimento e virtude, a última seria sem dúvida a melhor escolha. Pois é mais valiosa. O bom coração, que é fruto da virtude, é por si só um grande benefício para a humanidade; já um mero conhecimento, não.”

Marco Aurélio Ferreira Vianna é Conferencista nacional e internacional, escritor, pesquisador, consultor e presidente do Instituto MVC - Estratégia e Humanismo
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