quarta-feira, 4 de novembro de 2009

UMA CAUSA, NÃO UM NEGÓCIO

UMA CAUSA, NÃO UM NEGÓCIO
MARCO AURÉLIO FERREIRA VIANNA

Quais os cuidados fundamentais de quem opta pelo empreendedorismo?

A importância desta reflexão e, portanto, um desafio para respondê-la, é de fundamental prioridade nos dias de hoje. Sabe-se, com certeza - Jeremy Riskins nos avisou há bastante tempo - que caminhamos para o fim do emprego tradicional. Por isto mesmo, este termo deve ser substituído por conceitos mais abrangentes, como trabalho, ocupação e renda. Ao mesmo tempo, esta reconversão não só não é simples, como se constitui em uma das mais vigorosas diferenças de perfil pessoal no mundo das empresas.
Um empregado não somente evolui para se tornar empreendedor; ele tem que promover uma verdadeira revolução (e não evolução) de crenças, valores, atitudes, comportamentos e ações. Assim, este é o primeiro grande cuidado. E como antídoto, quem quer seguir seu caminho como “patrão de si mesmo” deve estudar com grande profundidade as características, habilidades e competências de um empresário. No nosso ponto de vista, a primeira e crucial reflexão consiste em se perguntar: “Meu perfil é adequado ao que me proponho?”.
Em segundo lugar, é necessário trabalhar a crença maior e mais nobre sobre a verdadeira missão de uma organização. Infelizmente, a tacanha mentalidade financeira que prevalece no Brasil leva futuros empreendedores a pensar que uma empresa é uma fácil geradora de dinheiro. Aplica-se como nunca a figuração semântica que José Gasalla, brilhante pensador espanhol de Gestão, a qual afirma que na antropologia ibérica prevalece o yo-ya-más-menos: Yo (tudo para mim), Ya (o mais rápido possível), Más (o máximo possível), Menos (com menor esforço possível). Na realidade brasileira podemos comprovar o mesmo comportamento. Cerca de 85% das pessoas que se encaminha ao balcão Sebrae para abrir um negócio fazem a indefectível pergunta: “O que está dando dinheiro agora?” Por isto, e não por coincidência 90% das empresas de microporte quebram até 5 anos depois da sua abertura. Um segundo cuidado, portanto: para abrir um negócio as perguntas são outras e muito diferentes. Mais ou menos nesta seqüência:
“O que sei fazer bem?” “Onde posso jogar minha energia e paixão para encantar meus futuros clientes?” “O que faço que me dá tanto prazer e faria sem ganhar nada?” “Qual a minha verdadeira vocação?” “O que faço melhor que os outros?” “Como vou motivar meus colaboradores para contar com parceiros e não com empregados?”.


Finalmente, um futuro empreendedor deve ter consciência de que alguns atributos selecionados farão parte, necessariamente, de um negócio de sucesso:

Uma enorme dose de persistência para transformar erros e até perdas em fontes de ensinamentos.

Uma postura obsessiva para aprendizado contínuo.

Uma humildade franciscana para mudar e rever posições.

Estabelecer modelos de empresas e pessoas que sirvam como foco de inspiração e até iluminação.

Ter o sentimento e a capacidade que consegue mudar algo no mundo, especificamente no sistema no qual sua empresa faz parte.

Ter a obsessão pela melhoria contínua fazendo hoje melhor do que ontem, e amanhã melhor que hoje.

Desenvolver a competência de um consistente conjunto de intuições estratégicas, buscando sempre novas oportunidades.

Encantar, deslumbrar, superar as expectativas de seus clientes e ter prazer por isso.

Motivar e desenvolver seus seres humanos.

Ter uma consistente ação cidadão e social e, mais do que tudo, um fascinante e luminoso amor por tudo que faz.

Marco Aurélio Ferreira Vianna é Conferencista nacional e internacional, escritor, pesquisador, consultor e presidente do Instituto MVC - Estratégia e Humanismo.